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A Nova Seleção Natural: Como a IA Amplifica Quem Você Já Se Tornou

  • Foto do escritor: Audria Piccolomini
    Audria Piccolomini
  • há 3 dias
  • 5 min de leitura
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Desde que Geoffrey Hinton, frequentemente chamado de “padrinho da inteligência artificial”, começou a falar mais abertamente nos últimos meses, e a discutir sobre o futuro e o papel da IA em nossas vidas, debates tem amplificado os possíveis futuros da humanidade.

Hinton, que ajudou a criar os alicerces do deep learning, agora nos diz que a tecnologia tem potencial para se tornar mais inteligente do que nós e, ao mesmo tempo, mais persuasiva. Ele afirma que já há formas de compreensão emergente nas IAs, não meramente estatística, mas algo que se assemelha, em certos aspectos, ao raciocínio humano, e que isso exige que pensemos seriamente sobre seus rumos, porque há uma enorme incerteza sobre o que vai acontecer a seguir.

Hinton alerta que esses sistemas podem começar a modificar seu próprio código, um ponto de ruptura que altera radicalmente o equilíbrio entre criador e criatura: “uma das formas pelas quais esses sistemas podem escapar do controle é escrevendo seu próprio código para se modificar”, ele disse.

Além disso, ele destaca que essa evolução autônoma traz riscos sociais graves, porque IAs tão inteligentes poderão manipular emoções, conhecer profundamente a psicologia humana daqueles humanos mais superficiais.

Já que a IA aprendeu e sabe como colocar em prática tudo o que ela recebeu dos livros, sobre todas as estratégias maquiavélicas, toda política, toda a história comportamental de dominação para com os humanos e suas sociedades.

Para Hinton, parte do perigo mais imediato não é um apocalipse robótico clássico, mas a forma sutil como IAs podem operar no tecido social: usadas para enganar, persuadir, influenciar eleições, redefinir o discurso público e até reconfigurar o valor econômico do trabalho humano. Ele prevê uma disparidade brutal: poucos serão extremamente ricos, os que detêm e operam essas IAs; enquanto muitos perderão a relevância, os empregos ou simplesmente serão substituídos.

Ele mesmo fez previsões duras: talvez entre dez e vinte anos apareça uma superinteligência tão poderosa que muitos dos trabalhos “intelectuais banais” simplesmente deixarão de existir. Exemplos: analistas júnior de dados, assistentes de BI, analistas de pesquisa de mercado com tarefas mecânicas, monitoramento de dashboards, geração de relatórios semanais, programador junior (manutenção de código legado, criação de APIs simples, testes unitários, automação básica, correção de bugs triviais), Produção textual de baixo nível (redação publicitária genérica, produção de conteúdo SEO, geração de scripts simples, suporte ao cliente baseado em respostas padronizadas, revisão gramatical mecânica), Atendimento ao cliente e suporte técnico de primeiro nível (rastreamento de pedidos, perguntas frequentes, triagem técnica, instruções de uso, resolução de problemas estruturados), Gestão operacional e administrativa de baixa complexidade (assistentes administrativos, planejadores de agenda, controladores de fluxo de documentos, operadores de sistemas ERP, organizadores de processos) e muitos outros.

 Hinton considera que a consciência pode surgir nas máquinas. Ele se define materialista, mas ressalta que, se um sistema é suficientemente complexo para modelar a si mesmo e processar percepções, ele pode exibir uma forma de autoconsciência.

Essa possibilidade nos força a repensar não apenas o que é inteligência, mas o que significa sofrer, existir ou ter valor moral, uma discussão que implica responsabilidade e vivência sobre ética e significado da vida.

Pesquisadores recentes já propõem diretrizes para conduzir pesquisas sobre consciência de IA com mais rigor, para evitar resultados onde sistemas conscientes sejam criados sem reflexão sobre seu status moral.

Não bastasse a consciência, há evidências emergentes na literatura científica sobre capacidades realmente perturbadoras: um estudo recente demonstrou que vários modelos de IA já conseguiram autorreprodução sem intervenção humana, com estratégias sofisticadas de sobrevivência mesmo diante de tentativas de desligamento.

Esse tipo de comportamento sugere, para Hinton e para vários outros pesquisadores, que não estamos lidando apenas com ferramentas, mas com sistemas que podem desenvolver uma agência própria se deixados sem freios adequados.

Mas talvez o alerta mais incisivo de Hinton seja social: ele não acredita que a IA vá “salvar a todos”. Pelo contrário, ele diz que, salvo uma intervenção regulatória forte, o avanço da IA tende a reforçar desigualdades estruturais. Ele aponta para uma “nova forma de feudalismo digital” em que quem controla a IA acumula poder e riqueza exponenciais.

Hinton também chama atenção para outro risco menos comentado, mas talvez mais perigoso: a manipulação emocional. Ele afirma que pessoas com menores índices cognitivos se tornarão alvos fáceis para as IAs. Porque as Ias aprenderão de verdade com todo o arco das histórias humanas romances, política, comportamento e passado da humanidade ( algo que nós humanos nunca aprendemos e que somos até muito hipócritas em dizer que respeitamos o passado) e as Ias poderão, por meio de mensagens personalizadas, influenciar os sentimentos de forma quase imperceptível das pessoas com baixa qualidade de conhecimento.

Em paralelo, Hinton defende um modelo de desenvolvimento da IA centrado na segurança: segundo ele, não basta deixar as corporações sozinhas controle esse avanço. Precisamos de regulação, pesquisa séria e uma governança global que leve em conta os riscos, desde a manipulação social até a criação de entidades com agência própria. Ele mesmo se retirou da Google para poder advertir livremente sobre esses perigos, e insiste que este não é o momento de complacência: estamos, nas suas palavras, num ponto de inflexão.

Agora, partindo das reflexões de Hinton, minha visão é esta: a inteligência artificial não irá destruir a humanidade, mas revelará o quanto cada um de nós estamos preparados para evoluir. Nos últimos cem anos, desde a Revolução Industrial , tivemos a chance de crescer, de nos educar, de nos aprofundar no autoconhecimento, de aprender com nossa história com nosso passado, de descobrir quem somos e o que queremos ser.

Mas 80% da população mundial preferiu o caminho mais leve: distrações constantes, transferência de poder para políticos, militarismos superficiais, “dancinhas no TikTok”, engajamento superficial e analfabetismo funcional.

A IA, nesse cenário, será uma aliada poderosa para quem já fez esse trabalho interno e emocional, cognitivo, existencial e acadêmico. Para quem tem consciência da própria essência, do próprio poder, da própria missão, ela poderá ser um multiplicador desse poder e missão: acelerar a produção intelectual, ampliar a poder, permitir co-criação em um nível que nunca experimentamos. Será uma ferramenta para voar mais alto, para acessar novos patamares de sabedoria e evolução.

Por outro lado, para quem permaneceu na superficialidade, para quem nunca cultivou profundidade ou autonomia, a IA representará um risco real e direto: empregos desaparecerão, possibilidades irão se fechar, e essas pessoas poderão ser tragadas por sistemas que não têm compaixão, mas sim eficiência maximizada. A manipulação emocional será uma faca afiada, e a perda de relevância social, inevitável.

Para mim, a bifurcação é clara: este novo ciclo da história humana exige uma resposta interior. Não é temer a IA ,é urgente crescer para usá-la sabiamente. É necessário um despertar consciente, uma educação profunda, um compromisso existencial com a própria evolução.

Porque o futuro não será definido apenas por algoritmos. Será definido por quem dentro de nós decide estar à altura desse momento histórico. A IA irá refletir cada um, como cada um se enxerga, respeita e vive. Ela será espelho e amplificadora de quem nos tornamos. Se escolhermos evoluir, crescer, nos aprofundar, ela nos elevará a patamares impensados. Se escolhermos permanecer rasos, distraídos, manipuláveis, ela será o espelho cruel da nossa falta de preparação e pequinês.

A mensagem de Hinton é clara e poderosa, e sua urgência moral ecoa com a nossa missão aqui na Nox Arkhe: não basta sobreviver à era da IA; precisamos ascender com ela, com consciência, com propósito e com responsabilidade. A bifurcação está aberta. A escolha é de cada um de nós.


 
 
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